Pelo Corredor da Escola

Apontar temáticas do cotidiano escolar é o objetivo primeiro deste blog, na intenção de ser "elo" entre as partes envolvidas (aluno/professor). A reflexão é o nome deste elo, que não só une, mas debate e critica os principais livros do Brasil e do mundo.

Para maiores informações falar com o Prof. Israel Lima

israellima7.4@bol.com.br


terça-feira, 22 de março de 2011

Professor "Novato" Desiste de Aulas na Rede Estadual


Por dia, dois docentes recém-concursados abandonam escolas em São Paulo. Principal reclamação é sobre falta de estrutura na rede; governo afirma que desistências estão dentro do esperado

Formado na USP, Edson Rodrigues da Silva, 31, foi aprovado ano passado no concurso público da rede estadual para ensinar matemática. Passou quatro meses no curso preparatório obrigatório do Estado para começar a lecionar neste ano no ABC paulista. Ao final do primeiro dia de aula, desistiu. "Vi que não teria condições de ensinar. Só uma aluna prestou atenção, vários falavam ao celular. E tive de ajudar uma professora a trocar dois pneus do carro, furados pelos estudantes. Se continuasse, iria entrar em depressão. Não vale passar por isso para ganhar R$ 1.000 por 20 horas na semana." Silva diz que continuará apenas na rede privada. Como ele, outros efetivados neste ano pelo governo já desistiram das aulas, passados apenas 39 dias do início das aulas, sendo 25 letivos. Até sexta-feira, 60 já haviam finalizado o processo de exoneração, a pedido, média de mais de dois por dia letivo. Volume não informado pela Secretaria da Educação está com processo em curso. A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) diz ser normal o número de desistências, considerando a quantidade de efetivações (9.300). Educadores, porém, discordam. Para a coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Maria Marcia Malavasi, "o cenário é triste; especialmente na periferia, os professores encontraram escolas sem estrutura, profissionais mal pagos, amedrontados e desrespeitados."

DESMOTIVAÇÃO - As desistências têm diferentes motivações. Entre as principais citadas por exonerados ouvidos pela Folha estão falta de condições de trabalho (salas lotadas, por exemplo), desinteresse de alunos e baixos salários. "Muitos alunos não apresentam condições mínimas para acompanhar o ensino médio e têm até uma postura agressiva com o professor", disse Juliana Romero de Mendonça, 25, docente de química. "A realidade da escola é diferente da mostrada no curso", afirmou Gilson Lopes Silva, 30, de filosofia. O concurso selecionou docentes de todas as matérias do final dos ensinos fundamental e médio, séries com muitos temporários e mais problemas de qualidade. Para Maria Izabel Noronha, presidente do sindicato do magistério, além de condições precárias da rede, "a formação nas universidades não é satisfatória, pois elas trabalham com uma escola irreal, de alunos quietinhos". Ela exige que o Estado dê mais tempo aos docentes para a formação em serviço.

(Folha de São Paulo, 21/03/2011 - São Paulo SP - FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO - Clipping 21.03.2011 )

Estado Diz Que Saída de Docentes é Normal


Professores aprovados podem ter usado exame para aumentar pontuação em outros concursos, afirma secretaria. Para governo, carreira está atrativa e oferece bônus e reajuste com base no mérito; salário inicial é de R$ 1.834

A Secretaria da Educação informou que considera normal o volume de docentes novatos que desistiu da rede. A pasta afirmou que devem sair do sistema 10% dos recém-efetivados (cerca de 900 professores), mas não informou em qual prazo podem ocorrer as exonerações. Segundo a gestão Geraldo Alckmin (PSDB), nem as condições de trabalho oferecidas nem os salários da rede são as causas das desistências. A secretaria aponta como explicações a situação pessoal de cada professor, como quem arrumou outro emprego ou só queria o certificado de aprovação, que pode ajudar em concursos futuros. Para o governo, a carreira está atrativa, por conta do bônus por desempenho (que pode chegar a 2,4 salários) e do reajuste com base no mérito (ano passado, 20% dos professores com as melhores notas numa prova ganharam 25% de reajuste). O salário inicial é de R$ 1.834 (jornada de 40 horas semanais). A professora recém-efetivada Ana Paula dos Santos, 28, elogiou as condições da rede. "Posso fazer aulas diferentes com datashow ou na sala de informática. Se o professor montar uma boa aula, os alunos vão se interessar", disse ela, que leciona biologia em colégio estadual da zona norte de São Paulo. A secretaria disse ainda que alunos que estudariam com docentes desistentes não ficarão sem aula, pois há reposição com temporários. E esses professores provisórios serão substituídos no ano que vem, quando devem entrar nas escolas estaduais 25 mil novos concursados, também aprovados no concurso do ano passado. Desde 2004, a rede estadual não contava com um concurso tão amplo para efetivar professores do 5º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio. (FT)

(Folha de São Paulo, 21/03/2011 - São Paulo SP - DE SÃO PAULO -Clipping 21.03.2011)

Lei Permite Experiência de Escolas "Charter" no Brasil


Se, nos EUA, o conceito de escola "charter" é bastante disseminado, no Brasil, não é bem assim. Apesar de a lei brasileira ter aberto uma brecha, em 1998, para a gestão compartilhada entre o setor público e o privado de escolas, as iniciativas por aqui ocorrem de forma isolada e ainda são muito pouco conhecidas. Funciona assim: uma entidade -que pode ser uma ONG, uma fundação- propõe um projeto para a administração de uma ou mais escolas públicas a sua respectiva secretaria de educação. No convênio, a entidade assume metas de qualidade e está livre para propor um projeto pedagógico novo, desde que respeite as diretrizes impostas pelo MEC (Ministério da Educação). Entre os anos de 2004 e 2007, em Pernambuco, o modelo charter foi implantado em escolas de ensino médio da rede estadual. A grade curricular foi reformulada, os professores que já eram dessas escolas receberam uma formação especial e tiveram seus salários aumentados. O resultado foi que o desempenho dos alunos no Enem foi maior do que a média obtida pela maioria das redes particulares do país. A seguir, leia a entrevista realizada com Maria Carolina Nogueira Dias e Patricia Mota Guedes, especialistas em gestão educacional da Fundação Itaú Social e autoras dos livros "A reforma educacional de Nova York - possibilidades para o Brasil" e "Modelo de escola charter: a experiência de Pernambuco".

Como foi a experiência da parceria público-privada em Pernambuco? Quanto tempo durou?

A experiência começou em 2004, com a criação do Procentro, programa da Secretaria de Educação de Pernambuco que institucionalizou a gestão compartilhada de escolas de ensino médio em tempo integral. O ICE foi a organização não governamental parceira que compartilhou com a secretaria as responsabilidades de coordenação técnica no desenho e implementação do modelo.

Que resultados foram alcançados?

Em termos de aprendizagem, os estudantes dos centros tiveram um desempenho acima da média da rede pública de Pernambuco em avaliações como o Enem (Exame Nacional de Ensino Médio).

Que aspectos do modelo norte-americano foram possíveis de trazer para o Brasil? Quais não foram possíveis e quais tiveram de ser adaptados?

A semelhança da experiência de Pernambuco entre 2004 e 2007 com modelos americanos é de que o ICE, enquanto organização parceira da Secretaria, estava diretamente envolvida na definição de padrões e metas, assim como na implementação de processos de gestão das escolas do Procentro. Por exemplo, na área de recursos humanos, o ICE se envolvia diretamente na organização da seleção de professores e gestores, na sua formação e acompanhamento.

O modelo implantado em Pernambuco propunha mudanças para a rede inteira?

Quando implantadas, as escolas do modelo se propunham a atuar como centros de referência, para experimentação de inovações que pudessem eventualmente ser adaptadas pela rede, ainda que parcialmente.

É possível replicar esse tipo de experiência para toda a rede? Por quê?

O próprio conceito de escola "charter" prevê que não seja uma experiência para toda a rede. Por terem mais autonomia, essas escolas podem se tornar fontes de ideias para a melhoria do ensino como um todo. As experiências nacionais e internacionais mostram a importância do fortalecimento técnico e gerencial das secretarias, para que elas liderem o planejamento e implantação de inovações em suas redes. O modelo de escolas "charter" é apenas uma dessas possibilidades.

(Folha Online, 21/03/2011 - São Paulo SP PATRÍCIA GOMES DE SÃO PAULO -Clipping 21.03.2011 )

terça-feira, 1 de março de 2011

Educadores Lamentam Escolha de Tiririca para Comissão na Câmara


Indicado para Educação, palhaço teve de provar à Justiça não ser analfabeto; ele pediu a seu partido, o PR, para ser indicado ao posto.

Depois de submetido a um teste para provar à Justiça Eleitoral que não era analfabeto, o deputado, cantor, compositor e humorista Francisco Everardo Oliveira Silva - o Tiririca - foi indicado, nesta sexta-feira, titular da Comissão de Educação e Cultura da Câmara. A escolha foi anunciada pelo líder do PR, Lincoln Portela (MG), e atende a um pedido pessoal do deputado. Um ofício confirmando a indicação - antecipada pelo estadão.com.br às 15h38 desta sexta - será protocolado pelo PR na terça-feira. Segundo a assessoria de Tiririca, ele queria muito fazer parte da comissão porque pretende atuar, como deputado, na área artística. É até filiado, em São Paulo, ao sindicato da categoria. A notícia espalhou surpresa e desconsolo entre educadores."É um retrato da sociedade que temos", reagiu o professor Mozart Neves Ramos, da ONG Todos pela Educação. "Acho lamentável", acrescenta a titular de Pedagogia da Faculdade de Educação da Unicamp, Maria Márcia Malavasi. "Não por ele, mas porque há tantas outras pessoas com carreira, seriedade e currículo para essa missão." Tiririca vai discutir e votar políticas educacionais depois de chegar ao Congresso envolvido numa aura de analfabetismo. Eleito com mais de 1,3 milhão de votos - a segunda maior votação da história da Câmara -, só conseguiu tomar posse depois de provar, perante um juiz eleitoral, que sabia ler e escrever. O argumento do juiz Aloisio Silveira, que o aprovou no TRE paulista, foi que "a Justiça Eleitoral tem considerado inelegíveis apenas os analfabetos absolutos e não os funcionais". O educador Mozart Ramos fez uma comparação: "Imagino se, na hora de formar uma seleção brasileira de futebol, houvesse vagas e cotas para os clubes, como para os partidos". O mais grave, observou, é que este é um ano importante para as causas educacionais. "Temos um Plano Nacional de Educação a ser definido. Com ele, a Lei de Responsabilidade Educacional. A reforma do ensino superior, a questão das cotas." Uma agenda "em grande parte técnica, que exige gente de preparo no setor".Lembrando que o Brasil tem "14 milhões de analfabetos com mais de 15 anos e muitos milhões mais de analfabetos funcionais", ponderou que Tiririca não está preparado para atender "à dramática necessidade de se organizar a educação para uma sociedade moderna e preparada". Marcia Malavasi, da Unicamp, esclareceu que não tem nada pessoal contra o deputado. "Não se trata de desmerecer as qualidades que ele possa ter. Mas é evidente que há uma inadequação entre o que ele representa e o tamanho dos desafios da educação brasileira." Completando sua tarde de celebridades, a Câmara emplacou também o ex-jogador de futebol Romário (PSB-RJ) como vice-presidente da Comissão de Turismo e Desporto. Nesse time jogarão também Danrley de Deus (PTB-RS), ex-goleiro do Grêmio, e o ex-boxeador Acelino de Freitas, o Popó. Romário já avisou que pretende trabalhar com os grupos encarregados de organizar a Copa do Mundo , em 2014, e a Olimpíada do Rio, em 2016. A Comissão de Finanças terá o ex-participante do programa Big Brother Brasil Jean Wyllys (PSOL-RJ).
(Estado de São Paulo, 25/02/2011 - São Paulo SP - Eduardo Bresciani, do Estadão.com.br e Gabriel Manzano - Clipping 01.03.2011)

Nova Forma de Ingresso e Educação na Universidade


Baseado no mérito e no esforço pessoal, o vestibular tem e teve um papel importante na seleção dos alunos nas universidades públicas. Atualmente, porém, não há dúvida de que esse modelo padece de problemas sérios. Grande número de estudantes, principalmente aqueles oriundos das escolas públicas, potencialmente aptos para o curso superior em boas universidades, são excluídos de uma competição equitativa, ou nem mesmo se candidatam, porque os mecanismos de preparação para esses exames competitivos são claramente determinados pelas condições socioeconômicas. Neste ano, paralelamente ao vestibular tradicional, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) dá início a uma nova forma de selecionar alunos que hoje são excluídos ou têm chance reduzida no sistema tradicional de seleção, sem abdicar do mérito acadêmico: o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS), que, sem prejuízo da forma tradicional de seleção de alunos da Unicamp - que é o vestibular -, cria 120 novas vagas, destinadas exclusivamente aos alunos que mais se destacaram na sua formação escolar nas escolas públicas de Campinas. Nessa primeira experiência, o critério utilizado foi a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No futuro, outras formas de avaliar a formação continuada do estudante poderão ser adotadas. Por exemplo, a nota obtida ao longo dos três anos do ensino médio, que vários dados apontam como talvez o melhor fator preditivo do desempenho do estudante na universidade. É importante ressaltar que somente o primeiro ou os dois primeiros alunos de cada escola são classificados, assegurando que todas as escolas públicas de Campinas sejam representadas. Trata-se de um programa-piloto e, conforme os resultados que apresentar, o número de vagas do ProFIS poderá ser ampliado nos próximos anos. Dados recentes indicam que mais da metade das escolas públicas de ensino médio da cidade não tem nenhum de seus alunos entre os matriculados na Unicamp. Além de testar uma nova forma de ingresso na universidade pública de qualidade, o ProFIS visa a oferecer aos estudantes uma visão geral do conhecimento universitário, antes de eles se decidirem por uma carreira específica. Assim, o programa prevê que, durante dois anos, os estudantes cursarão disciplinas de caráter amplo, em todas as áreas do conhecimento: cursos especialmente organizados para que, além da formação cultural e científica, se preparem para escolher a sua área específica de formação acadêmica e profissional. Após esses dois anos iniciais, eles escolherão um dos cursos já existentes na Unicamp, e o preenchimento das vagas será realizado com base no seu desempenho nas disciplinas obrigatórias que compõem o programa. Não se trata, portanto, de uma mera proposta de aumento de vagas, tampouco de uma forma de reduzir a competitividade, mas sim de criar um novo modelo de seleção para alunos de graduação e de experimentar uma nova resposta a um dos principais desafios apresentados à universidade contemporânea: formar jovens dotados de cultura ampla e espírito científico, capazes de realizar julgamentos críticos e independentes e preparados para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho. A formação geral na universidade é um tópico cada vez mais reconhecido em todo o mundo e também no Brasil como extremamente importante em nosso tempo, em que as principais riquezas dos países são a extensão do conhecimento e a capacidade de inovação tecnológica. Oferecer formação geral no nível universitário não é uma necessidade decorrente apenas das alterações no perfil das escolas de ensino médio, mas também do fato de que o conteúdo crescente das diversas áreas do conhecimento não pode ser acomodado dentro de um programa tradicional de graduação profissionalizante de quatro ou cinco anos. Da forma como se estrutura o ensino superior hoje em nosso país, a escolha definitiva do curso é feita, muitas vezes, sem uma visão mais ampla dos vários campos do conhecimento e até mesmo daquele selecionado. O resultado é que os formandos das universidades terminam por se verem imersos no competitivo mercado de trabalho com 21 ou 22 anos, sem possibilidade de ampliar seus conhecimentos para além de disciplinas técnicas de seu curso. Não surpreende, portanto, que muitos utilizem os conhecimentos adquiridos na universidade para exercer uma profissão outra, diferente da sua área de formação técnica: vários dados disponíveis mostram que aproximadamente metade dos profissionais regulamentados não atua em sua área de formação. Ou seja, a exigência de uma precoce definição profissional produz um efeito curioso: a universidade termina por ser, sob esse ponto de vista, uma maneira pouco eficiente de oferecer formação não especializada para mais de metade dos egressos. É certo que a resolução dos problemas do ensino superior no País depende da implantação de eficientes políticas públicas, que devem incluir, além do incremento na qualidade do ensino médio, a expansão e a diversificação do ensino superior público. Também é certo, no entanto, que cabe à universidade apresentar soluções conceituais para o enfrentamento das graves questões da educação pública no Brasil. Esse é o escopo do ProFIS. Por meio dele, a Unicamp, sem abrir mão do critério de mérito acadêmico, acaba de criar um curso inovador, que explora novos métodos de acesso à universidade e busca proporcionar a formação geral e qualificada indispensável para a atuação de profissionais capazes de raciocínio independente e crítico, dotados de responsabilidade técnica, ética e social e com conhecimentos adequados para contribuir para o progresso da sociedade brasileira neste século. REITOR DA UNICAMP.

(O Estado de São Paulo, 28/02/2011 - São Paulo SP - Fernando F.Costa - Clipping 28.02.2011)
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