Proposta uniformiza diretrizes de ensino para crianças e adolescentes nos EUA; apesar de críticas, plano tem adesão de 48 dos 50 Estados CRISTINA FIBE DE NOVA YORY.
As escolas americanas devem adotar, ainda neste ano, pela primeira vez, uma proposta que padroniza as diretrizes para a educação de crianças e adolescentes no país. Hoje, o controle do currículo escolar é exercido localmente. Com a ajuda de representantes de 48 Estados, um painel de educadores elaborou o pacote, que define os conceitos básicos que os estudantes devem aprender, ano a ano, da educação infantil até o fim do ensino médio, em inglês e matemática. O projeto fica aberto a consulta pública até o dia 2 e deve ser concluído até o fim de maio, para que possa ser adotado, voluntariamente, já no início do próximo ano letivo, entre agosto e setembro. Para Lindsey Burke, analista política do instituto Heritage Foundation, "voluntário" não é a melhor definição. "O problema é que, desde o começo, muito dinheiro federal está sendo usado como estímulo. São US$ 4,3 bilhões sobre os quais a Secretaria de Educação tem o controle. Então deixa de ser voluntário”.. A verba federal, destinada à melhoria das escolas, é dividida entre os Estados segundo um sistema de pontos, e a adoção dos padrões nacionais pesará na média final. Se adotado, o novo sistema representará importante vitória para o governo de Barack Obama, que vinha apelando para que os Estados agissem para diminuir a desigualdade do aprendizado público. Até agora, apenas Alasca e Texas se recusaram a participar. Burke, como outros críticos à padronização, discorda que ela possa atenuar as desigualdades e argumenta que se trata de uma política "irrealista". "Os Estados é que deveriam determinar a educação", sentencia.
Já Kristen Amundson, que estuda políticas educacionais, acha que o sistema irá, sim, contribuir para a equalização do conhecimento. "Tratam-se de rigorosos padrões, com muito conteúdo. Eles podem ser catalisadores da melhora da educação nacionalmente. A tradição de controle local é forte nos EUA, mas faz sentido a troca para padrões comuns, já que as famílias estão se mudando cada vez mais." Segundo entidades que lideraram a elaboração das novas diretrizes, elas procuram estar "alinhadas às expectativas do mercado e do ensino superior", além de terem sido orientadas pelos "países de melhor performance, para que todos os estudantes estejam preparados para ser bem-sucedidos na sociedade e na economia globais". "Muitos Estados têm expectativas demais em seus padrões acadêmicos, que forçam professores a cobrir muitos assuntos de maneira superficial", disse Gene Wilhoit, diretor executivo do Council of Chief State School Officers (conselho de diretores estaduais de educação), que assina a elaboração do projeto ao lado da National Governors Association (associação nacional de governadores).
"Pensamos, "vamos manter [as diretrizes] compreensíveis, em um número que seja gerenciável. Não vamos colocar mais exigências do que os professores consigam cumprir'", afirmou Wilhoit ao jornal "The New York Times". A discussão sobre estabelecer um currículo escolar mínimo aconteceu no Brasil e se transformou, há 14 anos, na lei de diretrizes e bases para a educação nacional. Segundo Regina de Assis, que participou desses debates no Conselho Nacional de Educação, as diretrizes estabelecidas garantem que alunos de diferentes regiões do país tenham o direito, garantido por lei, de ter um conhecimento básico semelhante. "Nenhum aluno brasileiro pode saber menos que o determinado ali", diz Regina. O currículo mínimo, na opinião de Regina, não é uma amarra. "Existe um núcleo comum sobre o qual não se discute", diz a consultora, para quem as equipes pedagógicas têm autonomia e devem usar a criatividade para ir além do exigido. Colaborou a Reportagem Local
(Fonte: Folha de São Paulo, 15/03/2010 - São Paulo SP.)