Feliz dia dos Namorados!
Quem já não trocou olhares? Quem já não roubou um beijo? Quem já não se pegou sentindo falta daquela pessoa amada?
Quem já não namorou ou namora? Aqui pra nós, ô coisa boa!
Bom, para homenagear este dia e o meu amor [
Silvinha] deixo esta minha poesia:
Próprio Amor
Tenho visto em mim,
Sei que não posso negar, há um nome
Para este estranho sentimento:
Sei que fui barro de um oleiro,
Tela de um pintor, água ou o
Próprio amor.
Fui talvez, tudo que há de mais
sagrado,
Fui água, catedral, rima e
Verso,
Fui talvez, descrito por
Neruda, ou quem sabe pelo
Próprio Carlos Drummond de Andrade...
Fui a flor do Saara escaldante,
Deram as minhas mãos
Algemas e não deram pão...
Não fui a lágrima em Israel,
Nem as armas do Vietnã,
Nem sentimento, nem dor,
O próprio amor...
***
Esta matéria eu julgo muito importante vale à pena conferir:
O beijo que, de fato, nos interessa
Beijo é coisa tão antiga que deve ser um comportamento ditado pela genética. E, como estamos nas vésperas do Dia dos Namorados, obviamente não estou me referindo aos beijos solenes, em mãos, rostos e mesmo bocas, destinados ao longo dos tempos e ao sabor de diferentes costumes, a prestar homenagens, reafirmar amizades e reconhecimentos. O beijo que nos interessa, se levarmos em consideração as Escrituras, é aquele que apareceu no mundo, certamente, depois da maçã e antes do pecado original.
Do ponto de vista histórico claro que foi bem antes. O Kama Sutra, o livro dos aforismos sobre o amor dos indianos, que muitos confundem com uma espécie de manual do sexo, cataloga trinta tipos de beijos românticos. Isso, há cerca de 3.500 anos AC. E como o livro foi escrito codificando tradições orais muito mais antigas, é de supor que indianos já eram craques em beijo muito antes de Adão e Eva serem expulsos do paraíso — afinal, os fundamentalistas do Velho Testamento fixam a data daquele primeiro beijo presumido, porque sem dúvida deve ter havido um, em cerca de 6 mil anos atrás. Isso é mixaria para as culturas orientais.
Os antigos romanos foram beijadores compulsivos. E davam a ele tanta importância que distinguiram três tipos, o basium, que era o beijo entre conhecidos, o osculum, que era aquele entre amigos e, finalmente, o suavium, o beijo entre amantes.
O suavium tornou-se tão importante para o imaginário popular, que se exprimiu nas artes visuais (como não reconhecer imediatamente a escultura O Beijo, de Rodin?) e na literatura, para a qual não se precisam buscar exemplos. Mas foi nas telas cinematográficas que ele adquiriu dimensões monumentais. Tornou-se um substituto da realidade e a mais refinada forma de sublimação erótica. O intenso contato entre os lábios dos protagonistas era o ato derradeiro que, infalivelmente, punha fim aos filmes.
Há milhões de pessoas que garantem, até hoje, que "o grande beijo do cinema foi aquele final entre Rick e Ilsa", Humphrey Bogart e Ingrid Bergman respectivamente, em Casablanca. Esse beijo jamais aconteceu no filme dirigido por Michael Curtiz, em 1942. Talvez tenha sido um efeito da belíssima canção tema, "As time Goes By", de Herman Hupfeld, que todo mundo acha que é dos irmãos Gershwin — do mesmo jeito que a manjada frase "play it again, Sam" não é dita no filme e que Bogart e Bergman não tenham ganhado o Oscar por ele, como muita gente jura. Deve ser só o efeito do beijo que não houve.
Beijo de cinema que incendiou a imaginação do público de verdade, veio bem mais tarde na pudica Hollywood, só em 1953, em A um Passo da Eternidade, entre Burt Lancaster e Deborah Kerr, considerado ainda hoje um dos mais tórridos da história. Uma praia deserta, com as ondas do mar produzindo uma metáfora visual incomparável — essas sutilezas hoje em dia foram para o espaço, liquidando o prazer do espectador de usar a imaginação. Daí eu achar que deve haver algo errado com a "ficança", esporte especialmente praticado no carnaval, quando deriva em uma espécie de campeonato de beijos — quem deu mais no fim do dia? Perde-se a elegância do gesto, o calor do contato especial, a excepcionalidade agradável do que é desejado por mais tempo que alguns segundos.
De outro lado, também não é preciso ser econômico ao ponto de Superman, que enrubesceu como um adolescente ao primeiro beijo de Mirian Lane. Talvez ele não fosse tão super ou não fosse tão... Bom, deixem pra lá, que isso é uma outra história.
Aquele beijo praiano, de Lancaster e Kerr, é comparado atualmente àquele dos dois cowboys gays de Brokeback Mountain, de 2005, quando se encontram, depois de anos, Enis (Heath Ledger) e Jack (Jake Gyllenhall). É um sinal dos tempos. O seriado de tevê Jornada nas Estrelas quase foi tirado do ar, em 1968, quando o branco comandante Kirk (Willian Shatner) aplicou um beijão na negra tenente Uhura (Nicole Nicols). Beijo inter-racial não podia nas telas estadunidenses daquela época, nem se acontecesse no espaço sideral.
Estivesse eu imbuído do "espírito dr. Bactéria", daria importância ao fato de que o beijo permite a troca de pelo menos 250 tipos de bactérias, vírus e protozoários, mas quem é que quer saber disso? Qualquer pessoa que, ao beijar, pense em vírus e protozoários, precisa de outro parceiro(a) ou de um bom psiquiatra, urgentemente.
Prefiro ficar no ramo da fisiologia: num beijo caprichado você movimenta 29 músculos, dos quais 17 são da língua, os batimentos cardíacos aceleram, chegando a 150 por minuto, fazendo uma espécie de exercício para o coração e ainda gasta, em média, 12 calorias. Não é uma beleza? E nem falamos de tudo mais que acontece fisiologicamente, se me entendem.
(Matéria extraída do Joenal da Orla - 07/06/2009 - Mauri Alexandrino - Cotidiano)