Pelo Corredor da Escola

Apontar temáticas do cotidiano escolar é o objetivo primeiro deste blog, na intenção de ser "elo" entre as partes envolvidas (aluno/professor). A reflexão é o nome deste elo, que não só une, mas debate e critica os principais livros do Brasil e do mundo.

Para maiores informações falar com o Prof. Israel Lima

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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Carta de uma Professora Mineira – 1º Capítulo


Convido você para ler esta carta, em forma de desabafo, de uma professora descontente com a educação – a mesma será, aqui, publicada em dez capítulos. Vale conferir! Acompanhe!

ENQUANTO A DINÂMICA DAS SALAS DE AULA CORRE, A SMED, REGIONAIS E DIREÇÃO DE ESCOLA ESTÃO A TOMAR PROVIDÊNCIAS E OS PROFESSORES TOMAM REMÉDIOS.

Que me desculpem todos vocês, mas a realidade não pode ser desconsiderada!!! Não dá mais para entrar no jogo do “ensaio sobre a cegueira”!!!!!

O modo indicativo e tempo presente usados na estrutura da oração subordinada temporal que inicia esse título, assim como o tempo composto com infinitivo na oração principal não são figuras de estilo, mas opção por tempos verbais que realmente mostram a realidade vivida pela educação. O que é “estar a tomar providências”?

Na oração principal, poderia até usar o gerúndio, tão reverenciado por nós educadores, que nos dizemos de esquerda, mas esse tempo verbal indicaria algo que está sendo feito no momento e, infelizmente a realidade não é essa!!!

Relato aqui o ocorrido comigo, professora de Língua Portuguesa, com quase trinta anos de profissão. Esse relato pretende chamar a atenção dos gestores e professores para fazerem prevalecer o presente do indicativo nas ações necessárias à política educacional inclusiva desse município.

No dia 04 de março, enviei à Secretária de Educação, Professora Macaé, e à Regional Centro Sul um email expondo a situação dos alunos e professores na Escola Municipal Senador Levindo Coelho. Nesse pedia providências, ou melhor, socorro. Obtive da Secretária de Educação uma resposta muito bacana e a proposta de que agendariam uma reunião, mas até hoje nada foi feito. Volto então a relatar.

Hoje, dia 19 de março de 2009, vou mais um dia para a escola, desanimada e certa de que as aulas que preparei para os alunos do 3º ciclo, 1º turno, não serão dadas. Mas busco entusiasmo não sei onde, entro para a sala de aula (sala 10, 6ª série) e inicio repetindo o que tenho falado com os alunos desde o primeiro dia de aula: coloquem o caderno, a agenda, o lápis, caneta, borracha, régua, tesoura sobre a mesa e guardem a mochila debaixo da carteira ou dependurada no encosto da cadeira (muitos se deitam, durante a aula, na mochila para dormir ou se escondem atrás dela para dar gritos ensurdecedores sem motivo algum ou para atirar bolinhas de papel enfiadas no corpo das canetas esferográficas).

Essa atividade demanda mais ou menos uns 20 min, pois metade da sala não ouve, ou finge que não ouve, continua a correr pela sala, está virada para trás conversando, está subindo nas bancadas sobre as janelas e de lá pulando de cadeira em cadeira e outros tantos estão a olhar no vazio, sem nada fazer.

Quando estão todos assentados, mais dez minutos para que escutem a proposta de trabalho para o dia.

Verifico o material, 14 alunos não trouxeram os textos distribuídos – no sentido de ajudá-los a se organizar e a organizar o material como está proposto nas nossas Proposições Curriculares, (do contrário, poderia entregar as folhas todos os dias e recolhê-las) ensinei-os a usar a contra capa da agenda, lugar ideal para guardar o material, sem que ele se perca ou amasse. Alguns têm no próprio caderno um local apropriado para isso e ensinei-os também a usá-lo para guardar as folhas.

(Acompanhe o próximo capítulo)


10 Comentários:

Bergilde disse...

Ola,obrigada por acompanhar nosso blog.Li o relato e me sensibilizo muito porque durante quase dez anos trabalhei em Fortaleza-CE como professora da rede publica de ensino e vivi muitas situaçoes similes em que apenas usando meus proprios recursos conseguia levar adiante os projetos,triste nao é mesmo?Um sistema educacional falido,mas que para muitos é somente o que resta para tentar um futuro melhor...Abraços!

Anônimo disse...

Israel,só pelo primeiro capítulo já dá prá sentir o sofrimento dessa professora,comprometida com a educação.Se fosse outro,mandaria copiar algum texto do livro,colocaria os pés e na mesa e daria um cochilo!Eu já vi um colega fazer isso...e alguém pode criticá-lo?Abraços,

Sandra disse...

Não vou poder ficar para ler, mas volto. Vim agradecer a visita, e dizer que tem selo luz na cuirosa para vc. e no blog uma interação de amigos. Passe por lá.
Sandra

Eduardo Cambuí Jr disse...

Olá!!
Vim aqui pra retribuir a visita ao "Arte de Quem" e achei demais o seu blog. O interessante é que mesmo considerando as claras diferenças de Estado pra Estado no nosso país, algumas situações se mostram exatamente as mesmas (senão iguais, com muitas coincidências). Muito legal mesmo!!!
FaloU!!!

Francisco disse...

Meu caro amigo!
É triste ver o rumo que a educação tomou no nosso país.
Na minha opinião, o problema começa em casa, com famílias desestruturadas, onde a autoridade paterna (quando existe), não é exercida.
Sou do tempo em que levantávamos quando o professor entrava em aula, e repetíamos o gesto quando ele saía. Tínhamos respeito por qualquer autoridade, fosse ela política, paterna, policial ou educacional.
Cada vez mais, respeito e admiro o trabalho dos abnegados professores, pessoas dedicadas e tão mal remuneradas.
É sempre um prazer passar por aqui.
Um grande abraço!

Fernanda Medeiros disse...

Estive em um colegio publico dando aulas, mas eram cursos de supletivo. Depois, entrei em uma Universidade privada, onde lecionei durante 2 anos.
O quadro nao era mto diferente.
Só era mais facil lidar com pessoas adultas pq nao havia os mesmos tipos de conflitos.
Mas o desinteresse pelas aulas se pode ver nos colegios e universidades públicas e privadas.
Os alunos ainda nao amadureceram para entender a importancia que tem os estudos na vida.
E qdo isso acontece, o tempo já passou e nem sempre é possível voltar aos estudos.

Na Espanha acontece o mesmo.
Além de que, como a Economia é diferente, os adolescentes terminam o Bachiller (Ensino Médio) e já comecam a trabalhar.
Ou seja, sobram bolsas de estudos na Universidade. Sobram vagas nas Universidades.
E as vagas que existem, estao quase tds ocupadas por mulheres.
Isso é bastante curioso.

Sobre o nivel de estudos e os recursos utilizados para apoio nas aulas, a diferenca é contrastante.
Embora os alunos nao respeitem mto e mostrem desinteresse pelas aulas, respeitam o material de apoio das aulas (videos, gravadores, multimedias, etc).

Saudacoes.

Marcia M. disse...

obrigada professor ISRAEL por ser meu seguidor é uma honra e saiba que graças ao senhor alcancei o seguidor numero 100,logo que postar estarei linkndo este blog obrigada!

Índia disse...

Triste perceber a pouca importância que os alunos hj em dia dão para o estudo e cultura de um modo geral.

Alguns mais parecem trogloditas do começo dos tempos.

Aguardo a continuação

Grande abraço.

Carlos Roberto, Pr. disse...

Caro Prof. Israel Lima,
Graça e Paz!

É lamentável um relatório como esse, no entanto, quero ressaltar e elogiar a coragem da professora em apreço, uma vez que, se mais vozes assim se manifestassem, talvez o grito fosse ouvido.
Infelizmente, a omissão ainda é um dos grandes problemas da nossa nação.

Parabéns pela postagem!

Um grande abraço!
Pr. Carlos Roberto

Joyce Pianchão disse...

Hoje estou aqui lendo o primeiro capítulo dessa história que é bem conhecida de todos os professores. O que acontece é que se deu muito prestígio aos direitos dos alunos.E a família sem querer saber do que acontece na sala de aula vai logo processando o professor e esse por sua vez não tem voz ativa, porque não tem valor. É preciso que haja respeito mútuo. O aluno é fruto da sociedade em que vive, da família que permite que ele se porte assim. Vou continuar a ler os próximos capítulos. Sou a favor que o dia a dia do professor na escola seja mais divulgado e que chegue nos ouvidos daquelas pessoas que "bolam" programas de atualização na educação, com aplicação de testes e mais testes, que só são realizados somente para "cobrar" mais do professor(se o aluno não aprende é porque o professor não ensina) sem conhecer a realidade vivida nas escolas. Abraço, Joyce.

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