Pernambuco — A mudança está nas ruas, nas praças, no comércio, nas escolas, dentro das casas. Da Zona da Mata ao Sertão, os jovens pernambucanos agora têm outras perspectivas de vida. O céu é o limite e eles já não se contentam em seguir “a lida” dos pais. Para mostrar essa nova realidade, a reportagem foi a todos os campus do interior e constatou que o sonho de conseguir o diploma sem migrar para a capital,Recife, tornou-se realidade. As portas das universidades públicas abriram-se para o interior. As cidades também estão se transformando, no momento em que começam a receber professores e alunos de várias regiões do país. O mercado imobiliário está cada vez mais aquecido, o setor de serviços oferece um leque cada vez maior de ofertas e as empresas locais estão ansiosas pela nova mão de obra qualificada. O índice de empregabilidade dos formandos chega a 70%, segundo as próprias universidades. A interiorização do ensino superior em Pernambuco começou para valer quando o governo federal anunciou, em 2002, a criação da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), única instituição do país a ter três campus divididos por estado. A sede fica na cidade de Petrolina (PE), coração da região do Vale do São Francisco, a 774 quilômetros do Recife. Mas o fenômeno começou a ganhar vigor há cinco anos, quando foram instaladas quatro expansões universitárias nas cidades de Vitória de Santo Antão, Caruaru, Garanhuns, Salgueiro e Serra Talhada. Antes disso, a Universidade de Pernambuco (UPE) já havia construído três unidades de formação de professores nas cidades de Nazaré da Mata, Garanhuns e Petrolina, no fim da década de 1960. Mas, pegando carona no fenômeno da interiorização, há cinco anos a universidade estadual implantou um campus em Caruaru e estruturou o já existente em Garanhuns, trazendo, dessa vez, a força dos cursos da área de saúde. A cidade de Salgueiro ganhou, em 2006, o curso de administração, que funciona em salas alugadas. Hoje, estudam no ensino superior gratuito de Pernambuco cerca de 20.911 estudantes, em 67 graduações. A maioria vem de cidades da região onde as universidades estão inseridas, mas também existe um quantitativo considerável de jovens do Recife e até de outros estados brasileiros. Os alunos de escolas particulares ainda são maioria, mas a proporção de estudantes oriundos da rede pública é 20% maior que a encontrada na capital. Grande parte dos 1.240 docentes é de fora. Mais de 60% deles possuem título de doutor ou de mestre e atuam em graduações criadas para atender o arranjo produtivo desses municípios. Isso significa que cada curso do interior abre para atender uma demanda econômica específica da localidade. Um exemplo é a graduação de design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).Em Caruaru, centro do polo de confecções, ela ganhou ênfase em produto de moda. A ideia é suprir a mão de obra das empresas locais e desenvolver as regiões por meio da fixação de jovens em suas cidades. A filosofia faz parte do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que financiou praticamente todas as obras de interiorização na rede federal. Os gastos com as expansões são da ordem de R$ 201,7 milhões, em obras e compra de equipamentos. Na rede estadual, os investimentos foram de cerca de R$ 10 milhões nos últimos cinco anos. Valéria Alves de Souza, 20 anos, será a primeira da família a conquistar um diploma universitário. Ela nasceu em Garanhuns e atualmente cursa o 4º período de licenciatura em informática no campus da UPE implantado em sua cidade. A jovem está radiante por poder estudar e estagiar sem precisar deixar sua casa. “Quando me formar, quero continuar em Garanhuns. Até porque não tenho motivos para sair. Hoje, é perfeitamente possível estudar e trabalhar numa cidade do interior”, aposta. A petrolinense Rosemary Gonçalves, 28 anos, estudante do 8º período de fisioterapia da Universidade de Pernambuco (UPE) de Petrolina, chegou a estudar em uma faculdade particular no Recife durante um ano. Mas conseguiu transferência para o campus da sua cidade e também comemora a possibilidade de estar perto da família. “É uma oportunidade única poder estudar aqui, perto da família e dos amigos. Sem falar que Petrolina está ficando cada vez mais desenvolvida”, justifica.
(Correio Braziliense, 13/09/2010 - Brasília DF - Mirella Marques - Clipping 14.09.2010)
1 Comentário:
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