Uma nova onda de ataques violentos contra acadêmicos está varrendo os campi em Atenas e Tessalônica, levando os professores gregos a questionarem a lei que proíbe policiais de entrarem nos espaços universitários. A lei não existe em nenhum outro lugar na Europa, mas é considerada sacrossanta na Grécia desde a queda da ditadura militar, que reprimiu de forma sangrenta uma rebelião estudantil na Politécnica de Atenas, em 1973, quando pelo menos 23 pessoas foram mortas. O último fim de semana viu um pico na violência, que tem crescido nos últimos meses juntamente com inquietação social geral, um aumento da criminalidade e o ressurgimento do terrorismo doméstico. Centenas de manifestantes antiestablishment invadiram os prédios universitários durante as manifestações realizadas em memória de um adolescente que foi baleado e morto por um policial há um ano, um evento que provocou alguns dos piores distúrbios já ocorridos na capital. O reitor da Universidade de Atenas, Christos Kittas, foi enviado para a unidade de terapia intensiva no domingo, após ser atacado por agressores usando barras de ferro e então atirado para fora de seu gabinete. Kittas, que teve alta do hospital na quarta-feira após se recuperar de um ataque cardíaco, pediu aos colegas acadêmicos e aos políticos para tratarem do problema nos campi. Ele disse que se sentiu "morto por dentro ao assistir jovens que poderiam ser meus netos ou alunos cometendo crimes e vandalizando o templo da liberdade de pensamento". Na semana passada, um professor da Universidade de Economia e Administração de Atenas, Gerasimos Sapountzoglou, foi agredido por extremistas quando se recusou a interromper uma aula. Vários outros acadêmicos sofreram ataques semelhantes em Atenas e Tessalônica nos últimos meses. Anastassios Manthos, reitor da Universidade Aristóteles de Tessalônica, que foi deixado inconsciente em um ataque semelhante no campus no ano passado, disse que a situação está ainda pior. "A violência nas universidades, e na sociedade grega em geral, é explosiva e sem precedente", ele disse. Ele citou a piora da economia e o ensino inadequado como principais razões para o descontentamento, que também alimenta a criminalidade, o terrorismo e os ataques contra escritores em festas para autógrafos de livros nos cafés de Atenas. Manthos atribuiu a violência nas universidades a "membros antiestablishment, grupos anarquistas e uma minúscula porção da população estudantil". "É um tipo de terrorismo", ele disse. As gangues por trás dos ataques variam em tamanho de 10 a 50 pessoas, com os agressores geralmente vandalizando propriedades universitárias. As ocupações dos campi costumam durar algumas poucas horas. Durante os ataques, que ocorrem em intervalos de poucas semanas, slogans costumam ser pichados nas paredes ou faixas são penduradas nos prédios, condenando a "opressão do Estado". Um autoproclamado anarquista que participou dos protestos no fim de semana disse que a inquietação é a única forma dos jovens insatisfeitos serem ouvidos. "O que um garoto pobre e sem perspectivas pode fazer? Ele vai pegar uma pedra e atirar contra um policial, ou forçará que a atenção se volte para ele", disse Yiannis Anagnostou, 37 anos, um agrônomo que se diz comunista e simpatizante do anarquismo.
Quanto à violência contra os acadêmicos, ele não se sensibiliza. "Eles deviam saber melhor em vez de fazerem o papel de guardas. Quando você vê uma multidão de pessoas furiosas, você sai da frente", ele disse. Os reitores concordam que a chamada lei de asilo das universidades, introduzida em 1982 para proteger a liberdade de expressão que era defendida pelos estudantes que foram mortos, está sendo explorada pelos extremistas para suprimir o ponto de vista dos outros. "Não se trata apenas de ataques organizados -há um clima geral de medo nas universidades", disse Yiannis Panousis, um criminologista proeminente da Universidade de Atenas, que foi hospitalizado em fevereiro após ser atacado com barras de ferro e marretas por extremistas durante uma aula. Após o ataque contra Panousis, os acadêmicos evitaram condenar publicamente os ataques por temerem represálias. Agora eles estão se manifestando. "Isso não pode continuar", disse Konstantinos Moutzouris, reitor da Universidade Técnica Nacional de Atenas, com a Politécnica de Atenas é oficialmente chamada. "Nós temos que reconsiderar quem somos, onde estamos, no que acreditamos", disse Moutzouris na segunda-feira, notando que "chegou a hora" de reavaliar, mas não abolir, a lei de asilo. No mês passado, o reitor da Universidade Técnica Nacional e dois outros diretores da
Universidade enfrentaram acusações criminais por "violação do dever", devido ao fracasso da instituição em impedir que seus computadores fossem usados para atualizar o site da divisão de Atenas da rede de notícias anticapitalista, pró-anarquista, Indymedia. Respondendo às acusações, a universidade disse que não promoveria qualquer tipo de censura "independente das diferenças de opinião ideológicas ou políticas que possam separá-la das opiniões expressadas". Os comentários dos acadêmicos, e o assunto da Indymedia, levaram ao debate sobre se a lei de asilo deve ser mudada. Os programas de entrevista na televisão estão dominados pelo assunto, com os políticos de esquerda e os estudantes em sua maioria contrários à mudança, enquanto a maioria daqueles de direita ou centristas a apoiam. O novo governo socialista parece estar se contendo. A ministra da Educação, Anna Diamantopoulou, condenou o ataque contra Kittas como "fascismo bruto e não provocado", mas descartou mudanças na lei. Ela notou, entretanto, que o governo está "pronto para apoiar as decisões das autoridades universitárias", que têm o direito de convidar a entrada da polícia nos campi, mas raramente o fazem porque a medida é considerada provocativa.
Apesar do governo estar mantendo distância, a Escola de Direito de Atenas adotou na terça-feira a medida ousada de restringir o acesso ao seu campus, aprovando um programa de emissão de carteirinhas para os estudantes e posicionando guardas em seus portões. Governos sucessivos recuaram na revisão da lei de asilo por temerem uma reação negativa. A maioria dos gregos ainda se incomoda com a visão de policiais próximos das universidades, ao lembrarem dos tanques que invadiram o campus da Politécnica de Atenas em 1973. Alguns dizem que uma revisão plena da lei não é necessária. Segundo Manthos, o reitor em Tessalônica, a legislação não precisa ser reformada, mas aplicada. "A lei declara claramente que quando crimes forem cometidos no campus, como a fabricação de bombas para uso em distúrbios, a polícia pode entrar sem pedir permissão", ele disse. Mas ele notou que "prevenção é melhor do que repressão". Panousis, o criminologista, destacou que o problema não pode ser resolvido com uso da força. "Não é apenas uma questão de policiamento, é um problema social", ele disse. "Nós temos que começar a discutir o assunto." Tradução: George El Khouri Andolfato.
(Fonte: Portal UOL Educação, 14/12/2009 - Niki Kitsantonis)
Quanto à violência contra os acadêmicos, ele não se sensibiliza. "Eles deviam saber melhor em vez de fazerem o papel de guardas. Quando você vê uma multidão de pessoas furiosas, você sai da frente", ele disse. Os reitores concordam que a chamada lei de asilo das universidades, introduzida em 1982 para proteger a liberdade de expressão que era defendida pelos estudantes que foram mortos, está sendo explorada pelos extremistas para suprimir o ponto de vista dos outros. "Não se trata apenas de ataques organizados -há um clima geral de medo nas universidades", disse Yiannis Panousis, um criminologista proeminente da Universidade de Atenas, que foi hospitalizado em fevereiro após ser atacado com barras de ferro e marretas por extremistas durante uma aula. Após o ataque contra Panousis, os acadêmicos evitaram condenar publicamente os ataques por temerem represálias. Agora eles estão se manifestando. "Isso não pode continuar", disse Konstantinos Moutzouris, reitor da Universidade Técnica Nacional de Atenas, com a Politécnica de Atenas é oficialmente chamada. "Nós temos que reconsiderar quem somos, onde estamos, no que acreditamos", disse Moutzouris na segunda-feira, notando que "chegou a hora" de reavaliar, mas não abolir, a lei de asilo. No mês passado, o reitor da Universidade Técnica Nacional e dois outros diretores da
Universidade enfrentaram acusações criminais por "violação do dever", devido ao fracasso da instituição em impedir que seus computadores fossem usados para atualizar o site da divisão de Atenas da rede de notícias anticapitalista, pró-anarquista, Indymedia. Respondendo às acusações, a universidade disse que não promoveria qualquer tipo de censura "independente das diferenças de opinião ideológicas ou políticas que possam separá-la das opiniões expressadas". Os comentários dos acadêmicos, e o assunto da Indymedia, levaram ao debate sobre se a lei de asilo deve ser mudada. Os programas de entrevista na televisão estão dominados pelo assunto, com os políticos de esquerda e os estudantes em sua maioria contrários à mudança, enquanto a maioria daqueles de direita ou centristas a apoiam. O novo governo socialista parece estar se contendo. A ministra da Educação, Anna Diamantopoulou, condenou o ataque contra Kittas como "fascismo bruto e não provocado", mas descartou mudanças na lei. Ela notou, entretanto, que o governo está "pronto para apoiar as decisões das autoridades universitárias", que têm o direito de convidar a entrada da polícia nos campi, mas raramente o fazem porque a medida é considerada provocativa.
Apesar do governo estar mantendo distância, a Escola de Direito de Atenas adotou na terça-feira a medida ousada de restringir o acesso ao seu campus, aprovando um programa de emissão de carteirinhas para os estudantes e posicionando guardas em seus portões. Governos sucessivos recuaram na revisão da lei de asilo por temerem uma reação negativa. A maioria dos gregos ainda se incomoda com a visão de policiais próximos das universidades, ao lembrarem dos tanques que invadiram o campus da Politécnica de Atenas em 1973. Alguns dizem que uma revisão plena da lei não é necessária. Segundo Manthos, o reitor em Tessalônica, a legislação não precisa ser reformada, mas aplicada. "A lei declara claramente que quando crimes forem cometidos no campus, como a fabricação de bombas para uso em distúrbios, a polícia pode entrar sem pedir permissão", ele disse. Mas ele notou que "prevenção é melhor do que repressão". Panousis, o criminologista, destacou que o problema não pode ser resolvido com uso da força. "Não é apenas uma questão de policiamento, é um problema social", ele disse. "Nós temos que começar a discutir o assunto." Tradução: George El Khouri Andolfato.
(Fonte: Portal UOL Educação, 14/12/2009 - Niki Kitsantonis)
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