Pelo Corredor da Escola

Apontar temáticas do cotidiano escolar é o objetivo primeiro deste blog, na intenção de ser "elo" entre as partes envolvidas (aluno/professor). A reflexão é o nome deste elo, que não só une, mas debate e critica os principais livros do Brasil e do mundo.

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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Carta de uma Professora Mineira – 2º Capítulo


Pergunto porque estão sem a agenda e sem as folhas, várias respostas: esqueci, meu irmão rasgou, fiz bolinha de papel, fulano (referindo-se a um colega de sala, ou mesmo de outras salas que durante os intervalos invadem como loucos as salas vizinhas, batem, jogam mochilas pelas janelas, rasgam material, andam sobre as carteiras) pegou rasgou ou fez bolinha de papel, rasguei porque achei que não iria precisar.


Enfim, 14 alunos sem os textos com os quais iríamos trabalhar. (ah, seria tão fácil se você os colocasse então em duplas para fazerem a atividade, penso eu). Ah! sim, seria e a responsabilidade e o compromisso ficariam para ser construídos não se sabe quando.


Depois de quase dois meses de aula sem conseguir que tragam o material, já tendo deixado alguns dessa mesma sala fora de minha aula, copiando os textos que seriam usados, volto a repetir a ação. Dessa vez, não anoto no meu caderno quem está sem material (sempre os mesmos, com raras exceções), peço que assinem uma folha e os encaminho para mesinhas perto da cantina, onde irão copiar os textos que necessitaremos em nossas aulas, já que serão duas. Peço-lhes que quando acabarem subam para que eu possa dar o visto e iniciarem as atividades programadas.


Desço algumas vezes para ver como anda a cópia e em uma dessas peço à coordenadora que redija um bilhete para que eu possa encaminhar às mães convocando-as para virem à escola. A coordenadora responde que não poderá fazê-lo porque está muito ocupada no momento, pois há salas sem professores.


E chama minha atenção - e não é a primeira vez - dizendo que não posso colocar alunos fora de sala. Respondo já bastante irritada que não posso é ficar com eles na minha sala sem terem nada a fazer e perturbando os outros. Volto à minha sala e redijo o bilhete o qual entrego a ela e digo: está aí o bilhete é só xerocar e enviar, ela olha para mim e diz: - Áurea, você sabe que temos um formulário próprio para isso? Confesso que tive vontade de morrer. Não respondo e volto para minha sala.


Os alunos vão terminando de copiar e na medida em que voltam para a sala, vou tentando explicar-lhes o que devem fazer já que a outra parte da turma já fazendo a atividade. Quase impossível, entram gritando, atrapalhando os outros, batendo, tomando e rabiscando os cadernos, pondo apelidos. Um inferno!!!! Acabam essas duas aulas.

Estou acostumada a dar quatro, oito horas seguidas de aula tranquilamente, mas essas duas me tiraram todas as forças.


Vou para o recreio. O lanche que tento comer – um suco e um pãozinho integral - não conseguem descer. Acho estranho, guardo o lanche. Bebo um pouco de água e fumo um cigarro.


Agora aula na sala 09, também 6ª série. Quando chego à porta da sala tenho vontade de sumir, há pelo menos uns dez alunos de pé sobre a bancada debaixo da janela. Alguns não são alunos da sala e quando entro e fecho a porta, descem da bancada e saem correndo e gritando. Outros pulam da bancada para os tampos das carteiras até chegar no seu lugar.


A garota - infelizmente ainda não sei todos os nomes - que se assenta na última carteira da 2ª fila, perto da janela, pula da bancada para o tampo de uma carteira e depois para o tampo da sua, desce para a cadeira, pula no chão e corre, gritando pela sala atrás de um garoto. Passam na minha frente como se lá eu não estivesse e voltam.


Paro na frente de todos e fico olhando, tenho a impressão de que estou numa rebelião. Penso: o que fazer?



(Acompanhe o próximo capítulo)


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