Pelo Corredor da Escola

Apontar temáticas do cotidiano escolar é o objetivo primeiro deste blog, na intenção de ser "elo" entre as partes envolvidas (aluno/professor). A reflexão é o nome deste elo, que não só une, mas debate e critica os principais livros do Brasil e do mundo.

Para maiores informações falar com o Prof. Israel Lima

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sábado, 27 de junho de 2009

Carta de uma Professora Mineira – 5º Capítulo


Fui à Regional, lá cheguei aos prantos. Fui bem acolhida. Foram as meninas da inclusão que me atenderam. Chorei... chorei... até conseguir falar o que se passava e lembrei-me do email que já havia enviado dizendo que até super-herói adoece. Disse a eles que não era Madre Tereza de Calcutá nem queria me candidatar a ocupar o lugar do Ramon, mesmo sendo o caso dele muito diferente, e morrer na luta!!!


Logo depois chegaram Zazá e Darcy que também me acolheram e escutaram pacientemente. Pude ver junto com elas que alguns alunos, que os professores citaram em reunião no ano passado, e estava registrado no caderno da Regional, eram os mesmos com os quais venho tendo atritos todos os dias. E o que foi feito com eles e por eles? Parece-me que nada!


Lembrei-lhes mais uma vez, pois já o tinha feito de outras vezes, que a direção da escola e coordenação da escola vêm se esforçando, mas não darão conta de fazer nada, pois estão de pés e mãos atados diante de nossas pífias decisões.


Disse ainda que precisamos tomar medidas mais eficazes – tratamento psicológico e psiquiátrico, assim como medidas mais sérias com esses alunos - suspensão e mesmo expulsão, de forma a alertar as famílias, embora saiba que nem elas estão dando conta dos filhos.

E o que sobrou de tudo isso?


Encerramos a conversa, Zazá já havia prometido pôr mais uma pessoa para ajudar na coordenação e reforçou a promessa. Não sei se isso resolve, creio que não. Mas nessa altura creio que não se pode dispensar nada.


Almocei com Zazá e Darcy, rimos e conversamos, nos separamos na esquina de Tupis com Espírito Santo, para eu descer até a Afonso Pena e tomar um táxi. Antes de chegar ao meio do quarteirão, comecei a vomitar (coisa rara em minha vida, pois não tenho problema de estômago, fígado, enxaqueca, nem tampouco bebo, nem na gravidez tive enjôo e vomitei) e não podendo tomar um táxi, fui andando tonta pela rua até a porta da Prefeitura, quando já não tinha mais nada para vomitar, e tomei um táxi direto para o hospital.


Pressão 17, o dedo médio, da mão esquerda, totalmente inchado e já arroxeando, o úmero do braço direito que fraturei há três anos e levei dois anos para pôr no lugar com muita fisioterapia, depois de seis meses de imobilização total, novamente fora do lugar, devido ao tombo ou “desabamento” na sala de aula e o pior a dor da impotência: saber que nada poderia fazer diante dessa situação a não ser me afastar da escola.


Ah! Ainda tenho a acusar minha impotência diante do silêncio, da imobilidade corporal e facial do olhar no vazio: Isabela e Luciano.


Logo que iniciei as aulas perguntei à coordenadora qual era o diagnóstico desses alunos, ela me disse que não sabia e que iria procurar saber. Já são alunos da escola, pelo menos desde o ano passado, e estão na 8ª série. Sempre que lhes peço algo, a turma responde: “ô professora eles num faz nada não, tem poblema de cabeça”.


Por várias vezes já lhes disse que não podemos nos referir assim às pessoas, mas de nada tem valido meus apelos. O que aprenderam em relação às crianças deficientes ao longo dos anos?



(Acompanhe o próximo capítulo)

2 Comentários:

Renan Barreto disse...

Nossa... essa do "eles têm problema de cabeça" doeu. O professor hoje realmente sofre com a falta de interesse do governo em dar uma boa condição de trabalho aos professores. aí que o país não cresce porque não se tem uma educação básica de qualidade. O que é pior? Culpam os "péssimos" professores por isso... Uma das classes que mais sofre e a que deveria ser a mais incentivada...

E obrigado, professor Ismael, pela visita no blog do programa de rádio. Realmente não sei como achou, mas fiquei contente. Semana que vem sai o segundo!

abração!

Andrea Berger disse...

Olá, tudo bem com você?
Não tenho tido muito tempo para comentar os seus post's, mas saiba que admiro muito os temas que escolhe e o modo como escreve.
Obrigada pelas visitas e pelos comentários.

Beijos

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