O pequeno opositor estava na sala de aula, mas ninguém viu. Seu comportamento agressivo e desafiador confundiu pais, professores e sociedade. Foi considerado “rebeldia de criança, fase que logo iria passar, ciúme de alguma coisa ou que suas necessidades não foram compreendidas”. Com tantas possibilidades, ficou difícil mesmo intervir de forma segura na formação de uma criança que pedia limites, mas lhe foram dadas opções demais. O pequeno opositor cresceu, a falta de clareza sobre o que podia ou não fazer lhe confundia demais a cabeça. Então, ele saiu testando várias alternativas, até encontrar alguém ou alguma coisa que lhe parasse. Conheceu as drogas, a violência e os furtos. Mas a história não acabou bem para nenhuma das partes envolvidas, pois uma delas, ou todas, foram negligentes quanto à sua criança. Para tentar entender onde foi a falha, iniciou-se uma busca por possíveis motivos: a) Muitas vezes, quando a família foi chamada na escola por causa de seu comportamento, os pais apoiaram o pequeno injustiçado e criticaram professores, acusando estes de perseguição; b) A escola muitas vezes foi omissa, por medo de sofrer represálias ou por ter perdido a autonomia enquanto instituição que educa; c) Tanto família quanto escola confundiram “liberdade de expressão com libertinagem” e “trabalho com valores com ensino tradicional”; d) Na tentativa de estabelecer direitos e deveres para o ser em formação, os direitos foram reforçados e os deveres, esquecidos; e) Em busca do ibope alto, rádio e televisão começaram a exibir, como se fosse um programa de auditório, denúncias e processos contra professores estressados e desrespeitados por alunos que apenas queriam extravasar ansiedade de adolescente. Diversas situações apontavam como havia sido o processo educativo da criança, o qual muitas vezes foi falho, pois os adultos não souberam, não quiseram ou não puderam interferir na formação da personalidade sadia. Mas esta condição apenas começou a ser percebida quando os adolescentes se envolveram em furtos; quando assassinatos começaram a ser praticados por estes; quando vimos crianças na calçada usando drogas, ao lado de meninas grávidas; quando professores foram agredidos física e verbalmente. A televisão também nos mostrou importantes imagens: da mãe que arrancou os fios do telefone da escola para que a polícia não fosse chamada; da carteira escolar que foi usada para bater; a do professor morto como se estivesse num campo de batalha, com a bandeira em cima do caixão. Isso não é ficção, é vida real. Alguns tentam ajudar com a teoria, dizendo que o atual sistema escolar é falido. Outros se apoderam da situação para ganhar votos. Alguns fazem de conta que o problema é com o vizinho. Outros mudam de escola, até que o filho goste do professor e o professor goste dele. Mas todos pedem socorro. O grito é ouvido por todos, mas poucos atendem. Para não ter complicações, evita-se estudar para ser professor, evita-se impor limites para não responder a processos. Mas uma professora, no meio dessa história toda, tateando possibilidades, resolveu fazer o aluno pintar o muro da escola, que tinha acabado de ser pintado por voluntários (pois o poder público tem coisas mais interessantes para fazer), muro no qual o aluno resolveu “expressar suas ideias”, e foi duramente processada, criticada, afastada, acusada e falida, pois ainda teve que gastar com advogado. Não sei como essa história terminou, fico imaginando se a professora já se recuperou do trauma. Acredito que o aluno e seus pais já tenham se refeito da situação incômoda à qual foram expostos. Imagina, “foi um risquinho de nada no muro...”
segunda-feira, 19 de abril de 2010
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