Pelo Corredor da Escola

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um Plano Marshall Para a Educação


O presidente dos Estados Unidos conquistou uma grande vitória em março deste ano com a aprovação da lei que reformula o sistema de saúde do país, assegurando o acesso ao seguro a 32 milhões de cidadãos. Mas o principal desafio ainda está por vir: como reformular o sistema educacional norte-americano, que sofreu grande baque desde a deflagração da crise econômica mundial. Ao contrário das promessas de campanha, quando o tema educação ganhou o carimbo de prioridade, com a perspectiva de melhores salários e programas. Os efeitos da turbulência parecem diminuídos, mas os reflexos devem perdurar por muito tempo, e o governo norte-americano tenta até hoje se recuperar com medidas educacionais inovadoras. O que se vê no país atualmente é exatamente o contrário: insuficiência de professores, classes com inchaço de alunos (uma solução sempre recusada por educadores e especialistas locais), salários em queda e redução de atividades extraclasse.
A pergunta que fica no ar é preocupante: onde entra a preocupação com a qualidade do ensino, o maior trunfo usado no país e o que lhe garante a liderança entre as nações? Os planos de Barack Obama para o setor eram de certa forma até ambiciosos, com previsão de investimentos pesados na pré-escola, incluindo apoio extensivo aos pais das crianças. A
melhoria das avaliações e do sistema de prestação de contas, prevista pelo programa de governo para os segmentos posteriores, prepararia os alunos para a faculdade e para o mercado de trabalho. Mais adiante, as ideias chegavam a sugerir um Plano Marshall para a educação, com a concessão de bolsas de incentivos para preparar melhor os professores. As propostas também falavam na liberação de recursos para a expansão de oportunidades na chamada pós-escola e para investimentos no aumento do tempo de aprendizagem para alunos necessitados nos estados e distritos que se interessassem. Em relação aos professores, estavam em pauta contratação, preparação e premiação, principalmente para acabar com a alta rotatividade e a escassez de docentes em locais onde é grande a concentração de alunos de baixa renda.
Mas medidas adotadas até agora e também as que se apresentam como inevitáveis chocam os norte-americanos. São os casos da possibilidade de aposentadoria precoce para cerca de 40 mil funcionários, do fim do funcionamento das escolas durante o período de férias e da reorganização dos roteiros do transporte escolar como forma de contribuir para a redução dos gastos. A situação dramática chegou a tal ponto que a Casa Branca teve que destinar US$ 100 bilhões para impedir o desemprego em massa, salvando pelo menos 250 mil empregos na área de educação. O desembolso de recursos sistemáticos não parece a solução mais plausível no momento. Até porque não se sabe se haverá caixa para isso. É preciso criar uma política efetiva, que possibilite a retomada dos projetos elaborados por ocasião da montagem do programa de governo.
Assim como ocorreu em relação ao setor de saúde, a luz no fim do túnel poderá vir de tomadas de decisão do Congresso norte-americano. Os parlamentares terão que se alinhar com o presidente Barack Obama e liberar um pacote de ajuda aos distritos, para que remontem os sistemas de educação, independentemente de outras prioridades que se apresentem. Neste momento, não está em jogo apenas a questão da criação de novos empregos, mas também a manutenção daquilo que é o que de melhor se pode deixar como herança para a população do país: a educação. O grande desafio de Barack Obama deve ser a reversão das expectativas negativas e a manutenção desse sonho. Se os Estados Unidos se destacam ainda hoje como a nação mais desenvolvida do mundo, deve isso aos investimentos feitos na formação de seus alunos, da pré-escola à universidade. Essa prioridade está sofrendo forte abalo.

(Clipping 15.04.2010 - Correio Braziliense, 15/04/2010 - Brasília DF - Presidente do CIEE-Rio (Centro de Integração Empresa-Escola) e membro da Academia Brasileira de Letras Arnaldo Niskier)

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